A maravilha daquele fulgor inesperado produzia um
efeito delicioso, quase palpável, que eu experimentava como uma dádiva ou uma
revelação. Os livros, tocados assim pela luz, apeteciam mais do que nunca, e
nunca o desejo de se darem a beber me havia parecido tão vivo.
Lamentei ter de me apressar para sair, mas a magia
do instante perseguiu-me ao longo do dia. Ao chegar a casa, infantilmente, fui
espreitar o corredor. Estava envolvido na sua meia-luz habitual. O visitante
dourado tinha desaparecido, evidentemente, cumprindo a ordem irrefutável do
relógio.
Passei os dedos ao correr dos livros em gesto de
acariciar e pensei que é possível, sim! É possível que os poemas andem por aí
dispersos, esperando que alguém os colha como frutos ou flores.
É que hoje eu vi um bem de perto. Estava pousado
sobre os meus livros e não tive tempo de o apanhar.
Lídia Borges
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