Volto mais uma vez à «personagem» da minha crónica anterior: a árvore de Natal. E isso porque vi, num bairro da cidade, uma mulher a atirar para o lixo o seu pinheirinho dos dias festivos de Natal, entretanto terminados. Nem esperou pelo Dia dos Reis, como, de um modo geral, é uso. Ao homem que a observava explicou que comprara a arvorezinha no Jardim do Palácio, por um preço «vá lá, razoável».
É que a Câmara, interessada em antecipar-se à devastação selvagem dos pinhais nos arredores do Porto, resolveu pôr à disposição da população pinheiros provindos das mondas necessárias, pois eles embaraçariam o bom desenvolvimento dos restantes. Uma iniciativa louvável. Deve reconhecer-se.
No entanto, e provavelmente por eu não passar de uma sentimentalona, aquele pinheirote, deitado na vala comum dos detritos, fez-me evocar uma das famosas criações do insuperável contador de histórias Hans Christian Andersen, história que, resumidamente, me ficou assim na lembrança: um pinheiro, deitado ao lixo, depois da alegre festa natalícia, fala do seu triste destino.
Vivia e crescia, contente da vida, junto dos seus companheiros da floresta. Mas um dia o frio aço de um machado penetrou-o, sem piedade, no frágil tronco e fê-lo cair por terra.
Pouco tempo depois, encontrou-se numa bonita sala, onde mãos carinhosas o embelezaram com coloridas bolas de vidro, estrelas prateadas e douradas e ainda com numerosas velinhas, que às noites se acendiam. Crianças e adultos dançavam à sua volta cantando lindas canções.
Ele então sentiu-se feliz, orgulhoso do seu papel de evidência, da sua promoção a um invulgar e desejado pinheiro de Natal.
Mas a sua felicidade foi de pouca dura. Chegou o dia em que as mesmas mãos que o tinham embelezado o desnudaram. E ninguém na sala lhe prestou mais atenção. Foi atirado ao lixo. E ali, desiludido, melancólico, meditou no seu destino.
É evidente que um autor do calibre de Hans Christian Andersen não se podia limitar a transmitir-nos os clamores de um pobre pinheiro, mas que também, ou talvez essencialmente, nos quis fazer lembrar a fugacidade dos acontecimentos, o efémero dos momentos belos, das utopias e da própria vida.
É que a Câmara, interessada em antecipar-se à devastação selvagem dos pinhais nos arredores do Porto, resolveu pôr à disposição da população pinheiros provindos das mondas necessárias, pois eles embaraçariam o bom desenvolvimento dos restantes. Uma iniciativa louvável. Deve reconhecer-se.
No entanto, e provavelmente por eu não passar de uma sentimentalona, aquele pinheirote, deitado na vala comum dos detritos, fez-me evocar uma das famosas criações do insuperável contador de histórias Hans Christian Andersen, história que, resumidamente, me ficou assim na lembrança: um pinheiro, deitado ao lixo, depois da alegre festa natalícia, fala do seu triste destino.
Vivia e crescia, contente da vida, junto dos seus companheiros da floresta. Mas um dia o frio aço de um machado penetrou-o, sem piedade, no frágil tronco e fê-lo cair por terra.
Pouco tempo depois, encontrou-se numa bonita sala, onde mãos carinhosas o embelezaram com coloridas bolas de vidro, estrelas prateadas e douradas e ainda com numerosas velinhas, que às noites se acendiam. Crianças e adultos dançavam à sua volta cantando lindas canções.
Ele então sentiu-se feliz, orgulhoso do seu papel de evidência, da sua promoção a um invulgar e desejado pinheiro de Natal.
Mas a sua felicidade foi de pouca dura. Chegou o dia em que as mesmas mãos que o tinham embelezado o desnudaram. E ninguém na sala lhe prestou mais atenção. Foi atirado ao lixo. E ali, desiludido, melancólico, meditou no seu destino.
É evidente que um autor do calibre de Hans Christian Andersen não se podia limitar a transmitir-nos os clamores de um pobre pinheiro, mas que também, ou talvez essencialmente, nos quis fazer lembrar a fugacidade dos acontecimentos, o efémero dos momentos belos, das utopias e da própria vida.
Mas tais considerações só nos vêm à mente depois da festa ter acabado.
Ilse Losa
À flor do tempo
Porto, Edições Afrontamento, 1997
Sem comentários:
Enviar um comentário