Carolina era a rapariga mais risonha e alegre de toda a aldeia, de todo o país e de todo o planeta. Não havia nada que a aborrecesse e tudo estava bem para ela.
Carolina tinha curiosidade em saber qual era a sensação do aborrecimento, pelo menos de vez em quando, como via acontecer aos adultos, jovens e crianças. Mas não sabia o que fazer para conseguir irritar-se, ainda que fosse só um bocadinho.
Um dia anunciaram na televisão um novo concurso: “O Castelo do Mau Humor”. Os concorrentes tinham de passar a noite no castelo sem sentir qualquer irritação. Aquele que o conseguisse ganharia, como prémio, uma fantástica viagem a uma ilha.
Carolina, depois de muito pensar, decidiu apresentar-se ao concurso. Era a sua grande oportunidade! Se ganhasse, iria viajar, e, se perdesse, significaria que se tinha aborrecido pela primeira vez na vida.
No dia do concurso, o apresentador avisou Carolina:
— Tens de saber que todas as pessoas que entram no castelo saem com um humor insuportável. Inclusive há pessoas que, depois de terem passado a noite no castelo, nunca mais voltam a sentir alegria.
Carolina era uma rapariga muito alegre, mas também muito decidida, e entrou no castelo de cabeça levantada e passo firme.
No interior do castelo só se ouvia um ruidozinho baixo e ténue, próprio das câmaras de televisão que gravavam o concurso. De repente, Carolina viu surgir, voando, pessoas quase transparentes.
— Olá — disseram. — Somos os espíritos do Castelo do Mau Humor que vão pôr-te à prova. Se quiseres ganhar o concurso, a primeira coisa que tens de fazer é limpar a coleção de MIL candelabros.
… E Carolina, em vez de ficar desanimada, irritada, e perder a boa disposição, procurou uma mangueira, abriu um frasco de sabão e limpou todos os candelabros num abrir e fechar de olhos. E, como se ainda achasse pouco, com a espuma que sobrou organizou uma festa de espuma!
A segunda ordem que recebeu dos espíritos foi arrumar a cozinha do castelo. Uma cozinha que levava mil quatrocentos e setenta e nove anos sem ser arrumada.
Carolina, em vez de protestar, de se queixar e de se pôr a gritar, arrumou a cozinha, tentando fazê-lo o melhor que sabia. Quer dizer, arrumar ao estilo Carolina.
A terceira tarefa consistia em coser e remendar as cortinas do salão grande.
Mas, para Carolina, aquelas cortinas podiam ser usadas para algo de divertido.
Os espíritos não sabiam como conseguir que Carolina ficasse irritada com eles. Depois de pensarem durante algum tempo, fecharam-na na sala dos gritos.
Mas a gritaria não perturbava Carolina. Andava sempre com uma caixinha de tampões no bolso, para colocar nos ouvidos quando tinha sono. Colocou os tampões e adormeceu profundamente. Dormiu e ressonou! E os seus roncos eram tão fortes que os espíritos fugiram espavoridos, ao ouvi-los.
Amanheceu e Carolina acordou de muito bom humor. Tinha ganho o concurso!
Não conseguira aborrecer-se, mas ia de viagem para uma ilha paradisíaca onde poderia descansar e apanhar sol como um lagarto, sem que nada pudesse incomodá-la.
Anna Manso
El castillo del mal humor
Barcelona, Intermón Oxfam, 2006
Sem comentários:
Enviar um comentário