Um senhor disse:
– Macacos me mordam, se o que eu digo não se passou
assim mesmo...
Como não se tinha passado assim, nem tão-pouco mais
ou menos, veio um macaco e mordeu-o.
Um outro senhor disse:
– Raios me partam, se não é assim tal como eu
conto... Como não era assim tal como ele contava, nem sequer parecido, veio um
raio e partiu-o. Um terceiro senhor disse:
– Ponho as mãos no fogo como falei toda a verdade...
Como não tinha falado toda a verdade, nem sequer um bocadinho, veio o fogo e
queimo-o.
O senhor mordido, o senhor partido e o senhor
queimado encontraram-se os três, no mesmo hospital. O médico que os atendeu
quis primeiro saber o que se tinha passado. Os senhores contaram e, desta vez,
sem tirar nem pôr, contaram a verdade por inteiro.
Logo ali, o que tinha sido mordido sarou da
mordidela, o que se tinha partido voltou a ficar inteiro, o que se tinha
queimado curou-se da queimadura.
Saíram do hospital muito contentes e nunca mais
juraram falso.
Acreditam? Não acreditam?
Pois foi assim tal e qual como eu conto. Que me caia
o tecto em cima, se não é verdade!
Sobre a folha de papel da minha história, começa a
cair caliça... E cada vez em maior quantidade... Por que será?
António Torrado
Ilustração de Cristina Malaquias
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