Jeremias sabia construir uma cerca de madeira bem firme e sabia também fazer panquecas deliciosas para o café da manhã, mas não sabia ler.
Jeremias sabia fazer uma mesa com a madeira de uma árvore, ou um doce xarope com a sua seiva, mas não sabia ler.
Jeremias sabia cultivar belos tomates, grandes pepinos verdes e suculentas espigas de milho, mas não sabia ler.
Ele conhecia as pegadas dos animais e as caraterísticas de cada estação do ano, mas não conhecia nem as letras nem as palavras.
— Quero aprender a ler — disse ele ao seu irmão Jorge.
— Mas tu já és velho, Jeremias — disse Jorge. — Tens filhos e netos e és capaz de fazer praticamente tudo.
— Mas não sei ler — retorquiu Jeremias.
— Bom — disse o irmão — então vai aprender.
— Quero aprender a ler — disse Jeremias à sua esposa Juliana.
— És uma pessoa maravilhosa, tal como és — disse Juliana, e acariciou-lhe a barba grisalha.
— Mas posso ser ainda melhor — disse ele.
— Está bem! — respondeu a esposa. — Vai aprender. E depois podes ler para mim.
E sorriu para ele enquanto tricotava.
— Quero aprender a ler — disse Jeremias ao seu velho cão pastor.
O cão olhou para ele e deitou-se no tapete gasto aos pés do dono.
Jeremias pensou então: “Como é que vou conseguir aprender a ler? O meu irmão não pode ensinar-me. A minha esposa também não pode ensinar-me. Este velho cão não pode ensinar-me. Como é que eu vou aprender?”
Jeremias pensou e pensou, e então sorriu.
Na manhã seguinte, Jeremias levantou-se mal o sol nasceu e cumpriu as suas tarefas diárias.
Depois, lavou a cara e as mãos, penteou o cabelo e a barba e vestiu uma das suas camisas preferidas. Fez biscoitos, caldo de carne, cortou fatias de tomate para o pequeno-almoço e preparou uma sanduíche para comer ao almoço.
Despediu-se de Juliana com um beijo e saiu.
Juntou-se a algumas crianças que se dirigiam para a escola pelo caminho arborizado.
Quando chegaram à escola, Jeremias entrou com elas. A professora sorriu quando o viu.
— Quero aprender a ler — disse-lhe Jeremias.
A professora apontou para um lugar vago e Jeremias sentou-se.
— Crianças — disse a professora —, hoje temos um novo aluno!
Jeremias começou a aprender as letras e os sons. Algumas crianças ajudaram-no.
À hora do recreio, sentou-se debaixo de uma árvore e contou-lhes histórias.
Ensinou Sara e David a assobiar como os passarinhos e a grasnar como os gansos.
Depressa Jeremias começou a aprender palavras inteiras.
Seguia as aulas com muita atenção e praticava os exercícios de caligrafia todos os dias.
Adorava quando a professora e as crianças mais velhas liam para a turma. Por vezes, desenhava enquanto os ouvia.
Jeremias estava a aprender, mas também estava a ensinar. Ensinou os gémeos Rodrigo e Renato a esculpir com o canivete. E ensinou a professora a fazer geleia de maçã e a assobiar.
Passado algum tempo, já conseguia formar frases e escrever as suas próprias histórias. Escreveu sobre como tinha salvado um pequeno esquilo. E escreveu sobre como nadava no rio. E sobre o dia em que conheceu a esposa.
Juliana observava enquanto Jeremias escrevia sobre a mesa após o jantar.
— Quando é que vais ler para mim? — perguntou-lhe ela.
— Na hora certa — respondeu ele.
Um dia, Jeremias levou da escola para casa um livro de poemas. Os poemas falavam das árvores e das nuvens e dos riachos e de cervos que corriam velozmente.
Jeremias escondeu-o debaixo da almofada.
Nessa mesma noite, quando Juliana se foi deitar, ele pegou no livro.
— Escuta — disse.
Jeremias leu um poema sobre pétalas delicadas e o doce aroma das rosas. Leu um poema sobre as ondas desfazendo-se na areia. E leu um poema sobre o amor.
Juliana olhou para os olhos cinzentos do marido.
— Jeremias — disse ela —, também eu quero aprender a ler.
Jeremias sorriu para Juliana:
— Será a primeira coisa que faremos após o pequeno-almoço, meu amor!
E apagou a luz.
Jo Ellen Bogart
Jeremiah Learns to Read
Scholastic, 1999
(Tradução e adaptação)
Citação do dia